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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"BROA DE MILHO" Capítulo 3

TRIGO. MILHO. CENTEIO.

Broa simples ou com mistura (milho, trigo, centeio), são formas apetitosas e nutritivas que datam de tempos imemoriais. Muitas vezes simbolo de enorme pobreza, a broa de milho era o único sustento na casa do trabalhador agrícola, quando não era possível chegar a outros recheios alimentares. Cultivando o milho que mais tarde se colhia e era levado para transformar em farinha no moinho existente no javiel onde passa o Rio Ceira. Mais tarde levava-o ao moleiro.

Havia, outrora, fornos comunitários onde era feito o «pão-nosso de cada dia» e aquela saborosa (bola com bacalhau ou sardinha) que alimentavam verdadeiras festas familiares. Lembro-me de ver a minha mãe fazer broa. E que broa tão boa!

Hoje ainda se coze a broa, mas antigamente as pessoas faziam-no duas ou mais vezes por semana no forno comunitário, pois o pão era só para quem podia. Primeiro peneirava-se a farinha. Depois de peneirada, colocava-se o sal e um pouco de água morna.

Naquele tempo tiravam o fermento. Guardavam um bocadinho daquela massa leveda, punham num tigelão e guardavam-na para quando voltassem outra vez a fazer broa, porque não havia fermento como há agora.

Agora compra-se fermente de padeiro, à noite aquece-se no fogão numa cafeteira ou tacho um pouco de água, desfaz-se um bocadito de fermento, depois, junta-se um pouco da farinha que está na gamela para o dia seguinte amassar a broa. No dia seguinte Junta-se a farinha: metade de farinha de milho, metade de trigo, com um pouco de sal e água morna, amassa-se bem e depois de bem amassada é polvilhada com farinha e com a mão faz-se uma cruz em cima da massa, pedindo a Deus a bênção do pão, para que fintasse bem, dizendo ao mesmo tempo as seguintes palavras" Deus te ponha a santa virtude que eu de mim fiz o que pode".

Cobre-se a gamela com os panais ou cobertores e cerca de uma hora mais tarde está finta a broa.
Enquanto a broa ficava a levedar, vai-se aquecer o forno com lenha que se vai varrendo para um lado do forno e depois para o outro. Este tem de estar bem quente. Para o saber, as paredes do forno devem estar esbranquiçadas, sinal de que o forno estava quente e a massa já estiva finta, o forno é varrido de imediato com o vassoiro. Feita a varredura, as mulheres tendiam as broas e o homem com uma pá de ferro redonda colocava-as no forno, arrumando-as bem arrumadinhas para caberem todas.

Tender a broa e deita-la na pá do forno não é fácil, confesso que sempre gostei muito de amassar e tender a broa mas nem sempre o tender me calhava bem. Em Setembro, quando estive na minha terra tentei tender, mas não correu muito bem. Valeu-me a minha madrinha Ilda que com a sua rapidez fez aquilo como se nada fosse, tal é o hábito!

A broa da minha mãe podia ir de qualquer maneira que ficava sempre bem! Ela só lhe dava ali meia volta, "bumba", e punha-a logo na pá para ir ao forno. Nunca fui capaz de fazer isso.
Agora já pouca gente coze a broa, mas antigamente havia um forno comunitário onde todos podiam fazê-lo, sendo este muitas vezes, o único tipo de pão existente. Contudo, havia regras, cada um tinha a sua semana ou dia. Quando alguém precisava de cozer a broa no dia do outro tinha de pedir autorização. Mas, muitas vezes as pessoas juntavam-se 3 ou 4, e coziam todos na mesma fornada. Para se poder saber de quem era a broa cada dono colocava um sinal, uns era um buraco feito com um, outro de dois, outros de três ou quatro dedos e assim todos sabiam a quem pertencia cada broa.

Lembro-me que a minha mãe deixava um restinho de massa, juntava-lhe um preparado com bacalhau ou sardinha, (que bom que era) ficava logo no ínicio do forno porque se cozia primeiro que o restante. Noutro capítulo deixo a receita.


O Forno bem quente....

A Senhora a tender a broa que está na gamela, com o tegelão
(Foto retirada do blogue de Chão Sobral)

Bola de Sardinha

Broa

terça-feira, 27 de outubro de 2009

"HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA" Capítulo 2

A aldeia de Cortecega foi sempre uma aldeia com tradições, costumes, usos ,bailaricos e festas que se mantém até hoje.

Como já referi anteriormente existiu aqui um Rancho Folclórico só com habitantes desta terra. Chega-mos a ser mais de 35 elementos, entre dançarinos, tocadores e organizadores. Éramos uma família.

À semelhança de outras aldeias do interior, a nossa também nesta época não tinha luz eléctrica. As estradas eram em terra batida. O correio passava 3 vezes por semana e mais tarde começou a passar todos os dias. O carteiro percorria várias aldeias e sempre que chegava, agarrava na corneta e tocava 3 vezes para as pessoas saberem que tinha chegado. A água era de um chafariz existente no meio da aldeia e quando o verão era muito quente faltava a água e tinha-mos de a ir buscar em cântaros e bilhas à cabeça, a mais ou menos um quilómetro de distância. Na aldeia, havia uma mercearia que se chamava Mercearia do “Tio Rafael”. Este não sabia ler nem escrever, anotava tudo com uns riscos num papel, mas não enganava ninguém nem se deixava enganar. Esta mercearia tinha de tudo um pouco, era servida todos os fins-de-semana pelos filhos, o Tio Zé e o Tio Mário, que tinham, e ainda tem um supermercado em Coimbra.
Chegou a ser umas das aldeias dos arredores com mais habitantes. Só pessoas entre os 10 e 19 anos era-mos 17, fora os mais pequenos e os mais velhos. As casas que hoje se encontram vazias ou em ruínas, estavam cheias de famílias com 6, ou mais pessoas.

Todos os fins-de-semana haviam um bailarico, vinham pessoas doutras aldeias e principalmente jovens, pois nesta aldeia havia muitas raparigas. Era um dos entretimentos, onde se divertiam novos e mais velhos.
Ao som do gira-discos, do rádio, do gravador, do harmónio, da concertina ou da flauta. Qualquer coisa servia para divertir este povo sempre muito reinadio e danado para a paródia. Como não havia luz eléctrica, estes bailaricos eram feitos á luz da candeia a petróleo ou à luz do luar.
Os rapazes muito malandrecos, passavam pela pessoa que estava com a candeia à cabeça e assopravam para a apagar, aproveitando este momento para dar um beijinho ao seu par.

Deixo aqui uma foto deste tempo. Obrigada ao Jorge que guardou esta preciosidade e ainda lhe colocou legendas.

Lá a trás penso que é a Teresa a dançar com o Aníbal, mais à esquerda a Cecília com o João, Eu (Eugénia) a dançar não sei com quem, pois não se vê, à direita mas atrás está a Fátima a dançar com o Joaquim e à frente a Anabela com o Américo e o Jorge com a Isabel. Se eu estiver enganada por favor corrijam-me.

"OS OBSTÁCULOS"

Não é fácil manter-se a calma nos momentos em que vemos as nossas perspectivas bloqueadas por impedimentos e demais dificuldades, obrigando-nos a estacionar, longa ou brevemente, na mesma situação.

No entanto, por mais que nos pareça ela é interminável, é possível seguir em frente, contorná-la da melhor maneira possível, transformá-la, até, em proveitosa lição para as nossas nossa vida.

Surgem os problemas para nos fortalecer, aguçar os nossos sentidos, nos abastecer de ânimo e confiança para jornadas futuras, talvez mais ásperas e definitivas.

Os obstáculos são mestres valiosos.
Saibamos enfrentá-los, aprendendo com eles...

domingo, 25 de outubro de 2009

"HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA" Capítulo 1

Hoje começo aqui um outro capítulo deste blogue. Por capítulos vou contanto um pouco mais da história desta aldeia e das suas gentes.
Como a maioria dos habitantes da aldeia, os meus pais eram muito pobres. Quase todos, viviam de uma agricultura de subsistência e do pouco dinheiro que o meu pai trazia da carpintaria onde trabalhava.
Os bens alimentares, como a batata, o tubérculo essencial nesse tempo à alimentação familiar, o milho o feijão, a couve entre outros que eram semeado em terras nossas e de arrendamento.
Na nossa velha e pobre casa, onde, em dias invernosos, era preciso aparar as goteiras de água com baldes pois o tecto tinha buracos.
As grossas paredes exteriores eram em pedra, mas o interior, quase amplo, tinha umas paredes de contraplacado que separavam as três divisórias. Duas divisões pequenas em forma de quarto, um dos meus pais e do meu irmão mais novo e o outro meu e dos meus outros dois irmãos, pois a minha irmã mais velha já era casada.
O chão era de madeira, percorrido por uns quantos buracos tapados com tábuas.
O vestuário era o mais simples e quase sempre feito de roupa que era dada à minha mãe e ela aproveitava para fazer roupa para os filhos.
Brinquedos comprados, nem pensar! Não havia dinheiro para tais luxos. Nós fazíamos os nossos brinquedos, eu, fazias as bonecas de trapos velhos (eram as bonecas mais lindas que eu conhecia). Os carros e barcos dos meus irmãos eram feitos da casca do pinheiro (carrasca). Como é um material muito maliável era fácil de trabalhar. Um outro brinquedo que usava era a fisga. O elemento principal era recortado de um ramo de árvore em forma de Y, e as extensões elásticas eram cortadas de uma câmara-de-ar de bicicleta. Este pequeno brinquedo, era uma armadilha para, através de isco, apanhar aves, então lá iam os rapazes para as terras em redor tentar apanhar um pássaro.

Quando entrei para a escola primária, em 1969, em Góis, que ficava a cerca de quatro quilómetros da minha aldeia, então com 6 anos de idade, não ia sozinha pois a aldeia de Cortecega tinha muitos miúdos. Nessa época chegámos a andar 17 na escola primária, todos ao mesmo tempo.
No ano em que nasci nasceram mais 5 crianças nesta aldeia. Como todas as crianças do lugarejo onde vivia, íamos a pé, fizesse chuva ou sol escaldante. A roupa e calcado que usávamos por vezes não se adequavam ao tempo. Lembro-me de no inverno chegar-mos à escola completamente encharcados. Nesta altura havia uma escola de raparigas e outra de rapazes.
A alimentação era levada de casa, coisas cultivadas no campo como a broa de milho, milho este cultivado por nós, os ovos, mas na maioria das vezes era uma sardinha na broa. Lembro-me de uma colega, a Lena cujos pais eram caseiros numa vacaria e por vezes ela trocava a minha sardinha pelo queijo dela.
Tínhamos de nos levantar muito cedo e palmilhar aqueles quatro quilómetros e à tarde, quando a escola terminava, regressávamos todos juntos.
Nestes tempos não se bebia café todos os dias de manhã, pois era um bem só para quem podia, mas os nossos pais sempre que chovia e chegava-mos molhados a casa, faziam-mos um café bem quente porque ajudava nos resfriados (constipações) e nós como gostavá-mos tanto deste miminho, muitas vezes deitávamo-nos nas valetas cheias de água para chegármos a casa molhados e termos direito à caneca de café quentinho.

Uma das alturas mais bonitas do ano era o Natal. Na minha casa nunca faltou o presépio, íamos ao campo apanhar o musgo, a cabana era de bocados de pedras maiores revestida de palha de centeio, as casas era feitas com pedras pequenas, as ovelhas com um bocado de pau e lã que tirava-mos das ovelhas a igreja era simbolizada por uma cruz feita com paus.
No dia de Natal acordava-mos cedo, pois apesar de pobres a minha mãe tinha sempre uma coisinha dentro das nossas botas de borracha, ou umas meias ou um bocadinho de palha. Esta palha era vendida ao quilo, e era composta pelas aparas das bolachas de baunilha. A cada um calhava um bocadinho embrulhado num cartucho, feito de papel da lista telefónica. Ía-mos assistir à missa à vila, que como já disse, fica a cerca de quatro kilómetros.
O almoço deste dia era um bocadinho melhor: canja de galinha e arroz com galinha ou um bocado de carne de porco, arroz doce e filhós, sempre que possível, na companhia da família e amigos.
Nunca houve fartura na minha casa, mas graças a Deus, nunca passei fome, coisa que muita gente passou.
Comecei a trabalhar com 11 anos, pois os rapazes podiam ir para o liceu as raparigas ficavam para ajudar nas lidas da casa. Com o tempo a vida foi melhorando muito e hoje a vida no interior, muitas vezes, tem mais qualidade que na cidade. É Pena que as pessoas tivessem que partir à procura de emprego, como o caso da maioria das pessoas que migraram. Sempre que posso vou lá passar uns dias para recarregar baterias.
No entanto guardo esta fase da minha vida com muito amor, serenidade e paz, que são um dos pilares da minha evolução como pessoa.
Esta minha história é a história de muitos meninos desta aldeia e de outros aldeias nestes tempos passados.
Publico aqui a cópia da capa dos três exemplares dos livros escolares, que já em adulta comprei, para mais tarde os voltar a ler e contemplar, uma vez que os meus eram emprestados e passaram para outros meninos. Ainda me falta o da quarta classe.
Deixo aqui uma das muitas histórias passadas nestas aldeias que continuarei a contar neste blogue. Estas, só servem como testemunho para jovens que hoje desistem da escola logo no primeiro obstáculo.

domingo, 18 de outubro de 2009

"TEMPO DO VOLFRÂMIO EM GOIS

Antigamente muita gente do nosso concelho e fora dele trabalhou na procura de volfrâmio e ouro nas serras da cabreira e Liboreiro entre outras.
Da aldeia de Cortecega, muita gente aqui procurou trabalho, entre eles os meus Pais (Susana Gonçalves e Arlindo Santa Cruz).
Numa destas fotos parece-me que um dos homens é o meu pai, mas não tenho a certeza. Peço a alguém que veja estas fotos e reconheça as pessoas nelas visadas o favor de dizer para eu publicar as legendas.

GARIMPEIROS NA PESQUISA DE OURO
FOTO DE ACÁCIO MOREIRA

PROCURA DE VOLFRÂNIO
FOTO DE ACÁCIO MOREIRA

PESQUISADORES NA PROCURA DE OURO

FOTO DE ACÁCIO MOREIRA

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BARRAGEM DE CARCAVELOS (GOIS)

Açude da Barragem de Carcavelos Foto de Acácio Moreira

Barragem de Carcavelos antigamente
Foto de Acácio Moreira


PAISAGENS DE GOIS



Açude na Peneda (Gois)
Foto de Acácio Moreira

O Castelo (Gois)
Foto de Acácio Moreira

Ponte em Madeira (Cerejal Gois)
Foto de Acácio Moreira

Peneda (Gois)
Foto de Acácio Moreira

Arco da Ponte Manuelina sobre o rio Ceira (Gois)
Foto de Acácio Moreira

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

XV ALMOÇO DAS VINDIMAS 2009

Este fim-de-semana realizou-se mais um almoço das vindimas nesta linda aldeia (Corteçega).
Bem hajam a todos os que compareceram e assim quiseram passar um dia agradável na nossa companhia.

O dia começou bem sedo, com a preparação do almoço e o arranjo da sala onde foi servido saboroso cozido à Portuguesa, sopa, arroz doce, aletria, bom vinho e a bela broa de milho.

Por vota das 13horas começou a ser servido o almoço para +-170 pessoas, acompanhado pela boa música portuguesa.
Ao meio da tarde os filhos dos antigos elementos do Rancho Infantil de Cortecega, (alguns já na 4 geração como foi o casa da Beatriz que tem apenas 6 meses) apareceram trajados com a farda que os seus pais, tios avós vestiram e brindaram os presentes com a marcha da nossa terra tocada pelos antigos tocadores, fazendo uma pequena demonstração de como se pisavam as uvas antigamente.
Seguia-se o cortar do bolo e bailarico para todos dançarem.
O dia terminou pela noite dentro.

Obrigada a todos, para o ano há mais e Cortecega cá vos espera.

Deixo aqui algumas fotos para recordação. Clic em cima das mesmas para abrir. Pode ver mais no vídeo que aqui publiquei.










A MINHA ALDEIA

" Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver. "
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"